terça-feira, 31 de agosto de 2010

Construir sonhos

Já me disseram que penso demais, de facto tenho a tendência para analisar demais as situações, as pessoas, para dar grande importância a pequenos gestos e por aí fora.

Nesta minha análise é frequente olhar para a minha vida e a avaliar pondo questões como onde estou?, o que sou? Quais são os meus objectivos?, quais os meus problemas?

Esta reflexão só faz sentido se for feita dentro de um contexto temporal, se os objectivos que tinha antes foram alcançados?, ou se estão mais perto de serem alcançados? Se resolvi os problemas que tinha identificado? Porque é que não foram resolvidos? Etc.

Neste contexto tenho de colocar todas as vertentes importantes da minha vida, família, amor, trabalho, saúde, objectivos materiais, emocionais, afectivos, estéticos...de tudo um pouco.

Hoje estou feliz por ver um objectivo perto de se materializar, um objectivo que era individual, mas que passou a ser um objectivo partilhado com o Danilo, a construção na nossa casa.

O objectivo não podia representar melhor a nossa comunhão, está cheio de ideias levantadas por um e depois construídas em conjunto, cheio de escolhas difíceis de materiais, tamanhos, cores, sei lá, tudo acabou sendo uma decisão conjunta e o resultado é um espelho da nossa relação.

Ver as paredes pintadinhas com o primário, branquinhas a realçarem as formas do mezanino e das janelas deu um friozinho na barriga. Mas a batalha continua, hoje escolhemos a pedra para os tampos da cozinha, estão a fazer a betonilha do chão, a passar cabos eléctricos, fixar os tiles nas casas de banho e na cozinha, colocar os perfis de alumínio, hufff, no entanto já da para ver a meta, lá na linha do horizonte, onde o sol vermelho de fim de tarde acaricia a terra fazendo-a exaltar-se em suspiros de amor ...

Construir sonhos, ou mais correctamente materializar sonhos mostra-nos que não andamos à deriva, que fizemos alguma coisa com o tempo que passou, que de alguma forma tomamos nas mãos o nosso destino.

Um beijo para o vazio ...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Os limites do blogueiro

Ao divulgar este blogue deixei um post ao qual dei o titulo de "Familia, muito pouco ou nada ..." onde traçava algumas considerações sobre a minha irmã.

Não devia ter feito, era algo pessoal de mais e que deveria ter sido tratado dentro da propria familia, quero deixar aqui as minhas desculpas às pessoas que se sentiram ofendidas como o post e fica para mim a lição de perceber onde traçar os limites daquilo que devo ou não publicar.

No mesmo post falava sobre a diferença entre a forma tradicional de resolver os conflitos familiares e a forma ocidentalizada. Não sou apologista da violencia, não usaria dela para resolver problemas, a minha admiração foi para a frontalidade como os problemas são resolvidos e como por causa disso, pequenos problemas, pequenos mal entendidos não crescem para se tornarem grandes problemas.

No fundo o post não passava de uma auto-critica, sobre não ter tido a coragem de ter abordado a situação familiar com frontalidade (não com violência).

Um beijo para o vazio ...

White Nigga

“White Nigga”, “o branco mais preto que conheço”, são alguns dos termos que os meus amigos usam para expressar a minha aceitação/inclusão no seu grupo.

Ontem ouvi uma expressão do género ser direccionada à minha sobrinha “És a branca menos branca que conhecemos”. Lembro-me de outros amigos, de outras idades e em diferentes meios sociais receberem semelhantes “elogios”.
 
Em geral entendo a afirmação com alguma vaidade, significa acima de tudo uma forma carinhosa de mostrar empatia comigo “apesar” da minha cor, mas porquê esta necessidade de negar a cor da minha pele para afirmar a minha aceitação no grupo?

A explicação mais viável é que quem as profere encontra na minha postura algo que contradiz a atitude do estereótipo do branco. O branco, especificamente o Luso-descendente, é visto como sendo racista, arrogante, malcriado e vive num círculo fechado de amizades não se dando a conhecer fora do seu meio.

Não consigo perceber de onde vem esta imagem, os estereótipos valem o que vale, se por um lado permitem fazer alguma critica social por outro tendem a generalizar coisas que não são passivas de generalização, não percebo como alguém que tenha crescido no mesmo contexto histórico e social que eu tenha o comportamento que se atribui aos Luso-descendentes.

A casa onde cresci nunca foi elitista ou preconceituosa, sempre vivi rodeado de vizinhos e amigos de todas raças, credos e posses, como todos que vivemos os anos 80 em Moçambique, quando faltava açúcar íamos com um chávena de chá pedir ao vizinho e ninguém se preocupava se o vizinho era branco, preto, mulato, china ou indiano.

Alguém levantou a possibilidade que o elitismo tenha começado com os “brancos” que regressaram depois da guerra dos 16 anos e não viveram a comunhão nacional moçambicana dos anos 80.

Não tenho orgulho na cor da minha pele, mas também não tenho vergonha, da mesma forma como não tenho orgulho ou vergonha da minha orientação sexual, ou do facto de ser destro, são características minhas que não me definem como pessoa.

Sinto acima de tudo, que uma das coisas que mudaram para pior neste tempo pós Samora fui uma súbita consciência de raça, de etnia e de nível social, os jovens agrupam-se desta forma e daí resulta um “racismo” e um reforçar dos estereótipos de raça.

Saudades do papá Samora.

Um beijo para o vazio ...

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Identidade e Estereótipo

Era uma vez um jovem, robusto, na flor da sua juventude, com ou sem planos de futuro. Caminhava despreocupado numa das ruas da nossa capital. A certa altura um veiculo para ao seu lado e um@ ti@ mete conversa com o jovem. A conversa é curta, o suficiente para marcar um copo ao fim da tarde e trocar números de cel.

O primeiro encontro ocorre bem banal, o jovem sem grandes meios financeiros aproveita o interesse d@ ti@ e bebe umas cervejas à borla. Seguem-se uns quantos encontros idênticos, parte do processo de “domagem” d@ ti@. Aos poucos os dois vão ficando mais à vontade, e vai ficando mais fácil chegar ao objectivo da primeira abordagem.

Num dos encontros , no meios de muita cerveja, o jovem chora da sua falta de meios e @ ti@ aproveita a deixa para lançar o seu anzol, muito bondoz@ como só el@s sabem ser, estava dispost@ a aliviar o seu protegido das suas dificuldades financeiras, a troco de um pequenino favor sexual.

O primeiro impacto da proposta deixa o jovem um pouco abalado, não lhe passara pela cabeça tal coisa, ou talvez tivesse passado, mas um abismo separava a possibilidade e a realidade da proposta. Dado o vínculo de intimidade já estabelecido entre eles e a possibilidade do dinheiro “fácil”, faz o jovem aceitar a proposta.

Consumada a primeira transacção num escondidinho qualquer, sai o jovem com o seu taco na mão e @ ti@, meio decepcionad@ com a falta de jeito da jovem, mas contente com a mais recente conquista.

As semanas passam e de tempos a tempos, ora devido à tesão d@ ti@, ora devido à falta de dinheiro do jovem vão ocorrendo outras transacções idênticas. @ ti@ vai desfilando aqui e ali com seu novo trofeu, e vai despertando a cobiça das amig@s da ti@. O jovem vai recebendo estabelecendo contacto com as amig@s da tia, e vai diversificado o seu lote de benemérit@s. Não tarda em internacionalizar-se e em conseguir um contrato de prazo mais alargado com direito a hospedagem e tudo. Mas como é comum, apesar de longo prazo o contrato acaba.

Volta o jovem ao contacto d@ ti@ original a disponibilizar os seus serviços e a pedir que o aconselhe @as amig@s, de preferência lhe encontre outro contrato internacional.

O jovem que no inicio teria os seus objectivos de vida, que se preocupasse ou não com o seu futuro ou a sua educação, torna-se em mais um membro da mais velha profissão do mundo...um prostituto, sem outro propósito que não encontrar o seu próximo cliente.

Esta história é comum a muitas cidades, esta história pode ser escrita mudando o género d@ ti@ ou do jovem, não é um problema exclusivo da comunidade gay, mas por vezes passa-se a ideia que na comunidade gay este cenário é inevitável, que quem tem posses, mas tarde ou mais cedo, tem de assumir o papel d@ ti@, e quem não tem posses deve assumir o papel do jovem.

Não passam de dois estereótipos que devemos combater, ninguém se deve conformar a papeis pré determinados, ser gay não define como a pessoa deve se comportar, como deve pensar, como deve-se vestir, o que deve comer ou beber, que musica deve ouvir. Ser gay não implica que se esteja preparado para discutir as últimas modas parisienses, ou adorar a última mala Gucci ou os últimos sapatos Prada. Não significa que se deve odiar o futebol e desdenhar quem prefere uma cerveja a um cocktais. Não significa que se deva idolatrar a Maddona e vibrar com os últimos acorde do Mika. Não significa que se deva estabelecer o sexo como a essência da vida e medir os outros pelo último bofe que conseguiram. Recuso-me a ter esta visão redutora da homossexualidade, a homossexualidade resume-se à atracção física, afectiva, emocional e/ou espiritual por alguém do mesmo sexo.

O carácter, os princípios morais, os gostos, os objectivos de vida, a personalidade não se definem com a orientação sexual, são questões individuais e formam-se com a própria pessoa, no seu processo de crescimento e maturidade. Não achem que se devam conformar aos estereótipos para se integrarem na comunidade, vivam de acordo com os vossos princípios e a vossa consciência, respeitem a diversidade, mas respeitem-se acima de tudo a vocês próprios e à vossa identidade, que é aquilo que vos torna únicos.

Um beijo para o vazio ...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Espiritualidade(s)

O dia a dia em Moçambique é marcado aqui e ali por sinais da presença de outras realidades que se alheiam à razão e aos parâmetros que marcam o nosso conceito do civilizado.
A presença dos antepassados, a procura de conseguir vantagens competitivas, amorosas, ou de saúde com um empurrão do além vive-se também nas mais modernas e ocidentalizadas empresas. Muitos vivem com o pavor de encontrar uma “almofadinha” na gaveta da secretária, ou com um punhado de sal à mão para afastar qualquer presença mais forte.

Quem em casa não queima um pouco de incenso quando se sente um pouco mais agitado? Qual a família que não vive com uma herança, em geral maldição, de um antepassado invejoso ou amargurado? Qual o político que se preze que não faça um “banho” ou um “bafo” antes de uma campanha?

Certo que muita coisa se explica com a predisposição do “alvo” para encontrar razões no sobrenatural, mas ficam sempre situações em áreas cinzentas que desafiam a convicção do maior céptico.

Sem julgamentos relato o último caso que me chegou ao conhecimento, sendo de alguém muito próximo merece o meu respeito e a minha solidariedade.

Um amigo desabafou comigo do desespero que tem vivido nos últimos dias, um dos seus familiares depois de muita luta conseguiu um emprego e preparava-se para iniciar a sua nova actividade, acontece que por algum processo inexplicável ficou imobilizado e sem conseguir sair de casa.

Mais tarde foi encontrada a explicação que a pessoa encarna com frequência um conjunto de antepassados, actos que tem atormentado desde criança, e que um dos grupos dos habitantes do seu espirito se rebelara contra o facto de não ter sido feito um pedido formal para que a pessoa pudesse aceitar este emprego.

Foram feitas as cerimónias recomendadas e apaziguados os espíritos revoltosos e finalmente a pessoa pode iniciar com a sua vida profissional.

Para se perceber o alcance destes fenómenos na sociedade, este meu amigo terá em desespero confessado a situação aos recursos humanos da empresa em causa, e, teve desta área a maior compreensão para o assunto, não se tratava de um caso isolado e foi tratado de acordo com a importância que teve.

Deixo à vossa reflexão o que se terá passado e o que significam estes casos, eu, vou vivendo de acordo com um ditado muito antigo que diz: “Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem”.

Um beijo para o vazio ...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"Antagonizando-me"

Emprego aqui o termo antagónico como referência a ser contra a corrente, contra uma maioria, contra o estabelecido.

Em algum momento da vida todos experimentamos esta sensação de fazer parte de uma minoria, seja pela cor da nossa pele, pelo nosso género, orientação sexual, etnia, posições políticas, opiniões, seja pelo que for, em algum momento temos de remar contra corrente.

Neste espaço vou explorar aquilo que me torna antagónico à sociedade em que me insiro, começando por questões básicas como a minha cor. Sou um Moçambicano Branco, para muitos a afirmação em si encera uma contradição, depois seguem-se a minha orientação sexual, o facto de assumir a minha orientação numa sociedade que prefere que estas questões fiquem no "Armário", dentro da própria comunidade opto por renegar um chamado "estilo de vida Gay" e viver a minha vida segundo os meus parâmetros de valores.

Mesmo em relação à sociedade regra geral identifico-me com os princípios, valores e opiniões que fogem do que nos é imposto pela maioria, acho que para criar-mos valor e formarmos opinião temos de nos permitir uma visão alargada sobre os mais diversos aspectos da vida.

Estou nua fase da minha vida em que sinto necessidade de escrever e expressar aquilo que penso e aquilo que sinto, sobre os mais díspares assuntos, e é isso que vou deixar neste espaço, se alguém vai achar interessante e procurar seguir, logo se verá.

Um beijo para o vazio...